quarta-feira, 30 de abril de 2014

CHÃO de Madalena Victorino


Um dueto para uma cidade que não está lá.
Debaixo de um céu virtual, um homem e uma mulher sentam-se à mesa e envolvem-se com a ideia de uma cidade antiga. Usam um estrado como assento e ouvem casas inteligentes a transpirar memórias. Correm por soalhos em espinha, esbarram em espelhos de chaminé que iluminam as noites e descem por colunas salomónicas até aos frutos de Deus. Vestem a pele dos santos e riem como as gárgulas. Descem mais e encontram a perda da inocência, a escravatura, a cidade como lugar de poder. Esta curta peça faz-nos pensar nos registos antigos que pertencem à cultura católica e que guardam em casinhas de cartão e vidro, acontecimentos como se fossem mistérios. Esta cidade invisível transforma-se assim num gabinete de maravilhas que os intérpretes desta dança, transportam nas bandejas dos seus corpos.

Madalena Victorino